Esses dias li O Senhor das Moscas, de William Golding. O
livro traz a história de garotos, presos a uma ilha deserta após a queda de um
avião. Um deles, Ralph, é escolhido por unanimidade para liderar o grupo e, com
isso, tentar trazer alguma ordem em meio ao caos. Ralph tem um espírito
democrático: é aberto, escuta as pessoas, busca ser o mais justo possível, em
meio às adversidades.
Outro garoto é Porquinho, uma criança muito metódica, que
analisa a situação e fala o que, muitos, não têm coragem de dizer. Ele traz
fatos que ninguém quer encarar e, por isso, incomoda. Ralph, sempre que
possível, o escuta. Por ter espírito democrático e por entender que há posições
que devem ser tomadas. Porquinho é como se fosse a ciência, a razão. Ele pensa
e analisa o que é viável e o que é possível – e por isso incomoda, pois não há
soluções mágicas.
E, para contrabalancear a história, há Jack: um garoto que
quer ascender ao poder, pela imposição da força, apenas pela necessidade de
mandar e fazer o que bem entender. Tem posições demagógicas, frias, desumanas.
Jack traz soluções mágicas, para situações que não têm solução. Sabe articular
seus seguidores pelo ódio que espalha e pelo medo que cria. Jamais ouve
Porquinho, o garoto que traz fatos. Tem ódio de Ralph, a criança que luta, inclusive,
pelas minorias, não buscando privilégios a estes, mas equidade.
Ao terminar de ler o livro, tracei um paralelo de tudo o que
tem acontecido no Brasil e senti muito receio pelo que está por vir em 2018. Tenho
medo de um líder emergir pelo ódio. Tenho medo sim, por saber que muitas
atrocidades são cometidas pelo silêncio e cumplicidade da maioria. Se você
busca o bem, como optar por aqueles que não respeitam o outro? Tenho pena de
quem não enxerga o mal que cultiva. Falta esclarecimento.
Juliano Schiavo é jornalista, escritor e biólogo
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