Sou parte de um contingente formado por cerca de 14 milhões
de pessoas. Um número que representa uma parcela significativa de um País que
esteve sempre em crise: econômica, política e moral. Sou parte de uma sociedade
de desempregados, que tenta se encaixar. Mais do que isso: tentamos se sentir
com alguma função social. Confesso: está difícil.
Não entrando na questão da usurpação dos direitos
trabalhistas que fomos vítimas, trago aqui uma pequena reflexão sobre o “lado
bom” de estar desempregado. Fiquei um tempo pensativo, pois tempo é o que mais
temos quando estamos sem patrão.
Estar desempregado me ensinou várias formas de cadastrar um
currículo. São sites diferentes, para preencher os mesmos dados. E quando o
site trava na metade preenchimento? É a forma de aprendermos a ter perseverança,
pois somos brasileiros e não desistimos. Também aprendi que as dinâmicas das empresas
só cobram para que sejamos bons nas dinâmicas – e não necessariamente bons profissionais.
Percebi que o mercado de trabalho é bipolar. As empresas
querem dar espaço aos estagiários, desde que eles já tenham ampla experiência. Querem
também profissionais especializados, porém quanto mais títulos, menos chances
de ser contratado por ser um profissional muito qualificado – e assim, ter que
pagar maior salário.
Ficamos, inclusive, experts em participar de concursos
públicos – mesmo sabendo que são cadastro de reserva, os quais não chamarão
ninguém e servem apenas para angariar fundos com as inscrições. Mas tentamos
tudo, não é?
Estar desempregado me ensinou que a crise é brava. Que ter
diploma não é garantia de emprego. E que as únicas coisas que fazem que
continuemos a caminhada são as pessoas que estão ao nosso lado e a fé que as
coisas vão melhorar. Pois bem, continuemos tentando.
Juliano Schiavo é jornalista, escritor e biólogo
Americana - SP
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