Reflexão de uma campanha

Nesse debate que se trava diariamente, temperado pela mídia com seus disse-que-disse-não-disse, eis que surge aquela sensação de frustração com tudo o que vemos. Falta ânimo para ler política. Não há entusiasmo para debater. Tudo é muito igual, homogêneo, complicado de se separar.

Se de um lado temos uma onda vermelha, do outro temos uma onda azul. Que, por incrível que pareçam, são muito semelhantes, sem muitas diferenças. São cores primárias, uma quente, outra fria, que nada mudam, apenas servem para colorir essa política feita de quadros brancos, que existem para serem pintados de acordo com as necessidades.

A onda verde oxigenou o primeiro turno, mas não decolou – talvez por causa das pesquisas que nada disseram e só contribuíram para espalhar uma névoa no debate. Uma pena. Quem perdeu com isso? Quem ganhou? Façam as conjecturas. Não é preciso pensar muito para saber para qual lado pendeu a balança e em que pedaço rompeu-se a corda.

Nesse marasmo de projetos, nessa imensidão de discursos, eis que continuamos uma sociedade abortada. Se um prega que deseja ser a continuação e o outro prega que o País pode mais, eis que nos deparamos com uma incógnita: o que arriscar? No que acreditar quando somos frutos de um ambiente abortado de princípios, de coerência, de verdades, de ética?

O problema não está na escolha que faremos. O problema está no que fazemos. Ruímos na medida em que, nas ações individuais, nos entregamos às pequenas tentações: a furadinha de fila, o passar no sinal vermelho, o gole de cerveja no volante e tantas outras pequenas infrações e ações para se autobeneficiar. Eis aí a falta da honestidade individual, que ressoa numa caixa maior, numa caixa de pandora chamada sociedade. E ainda exigimos ética, coerência, hombridade, quando somos, na verdade, hipócritas em certos sentidos. Deveríamos mudar primeiro para exigirmos mudanças. Ou isso seria pedir demais?

Tenho minhas inclinações políticas, minhas preferências ideológicas, meu ideal de País. Tenho comigo a certeza de que não devemos nos omitir num voto branco ou nulo. Pois anular ou votar em branco é como dar um tiro a esmo, sem pontaria. É perder a oportunidade de escolher aquele que, mesmo sendo tão igual ao outro em muitos aspectos – principalmente os de marketing – pode representar mudanças. Que a escolha dessa sociedade abortada de princípios, ao menos, se paute por uma reflexão. Ao menos isso.


Juliano Schiavo é jornalista, escritor e estudante de ciências biológicas
Blog: www.julianoschiavo.blogspot.com

Comentários